Leite com soda cáustica e ‘pelos indefinidos’ leva à prisão de seis pessoas em fábrica do RS

Publicado em: 11 de dezembro de 2024

Leite com soda cáustica e ‘pelos indefinidos’ leva à prisão de seis pessoas em fábrica do RS
Foto: MPRS/Divulgação/ND

A operação Leite Compen$ado identificou produtos de leite com soda cáustica, água oxigenada e “pelos indefinidos” em uma fábrica no Rio Grande do Sul, nesta quarta-feira (11). Seis pessoas foram presas, entre elas, o homem conhecido como o “mago do leite”.

A operação foi deflagrada pelo MPRS (Ministério Público do Rio Grande do Sul) contra a fábrica Dielat Laticínios, no município de Taquara, no Vale do Paranhana. No local eram produzidos derivados lácteos – leite UHT, composto, leite em pó, soro, entre outros.

Segundo o MPRS, os produtos de leite com soda cáustica são distribuídos para o Brasil e até para a Venezuela. As marcas comercializadas pela Dielat no Brasil incluem Mega Lac, Mega Milk, Tentação e Cootall, enquanto na Venezuela os produtos levam o nome de Tigo.

Ao chegarem no local, os agentes identificaram produtos lácteos com adição soda cáustica e água oxigenada. Além disso, foram detectados “pelos indefinidos” e pontos de sujeira dentro de embalagens.

Cerca de 110 agentes cumpriram quatro mandados de prisão preventiva e 16 de busca e apreensão em empresas e residências de Taquara, Parobé, Três Coroas, Imbé e na Capital paulista.

O nome da empresa foi divulgado pela Zero Hora, que tenta contato com os responsáveis pela Dielat Laticínios para contraponto.

‘Mago do leite’ e outros cinco são presos

Quatro pessoas foram presas preventivamente por produzir leite com soda cáustica: um sócio-proprietário da empresa; o diretor; um supervisor; e um engenheiro químico conhecido como o “mago do leite” e “alquimista”.

Além deles, outras duas pessoas foram presas em flagrante. Uma mulher, que teria dito a funcionários para apagarem possíveis provas, e um diretor administrativo da Dielat, por posse ilegal de arma de fogo.

Essa se trata da 12ª fase da operação Leite Compen$ado. O químico preso, conhecido como o “mago do leite”, já havia sido preso na quinta fase da operação, em 2014, acusado de produzir produtos de leite com soda cáustica em uma indústria em Imigrante, no Vale do Taquari.

Antes disso, em 2005, ele havia sido absolvido por acusação parecida. Com a prisão em 2014, o “mago do leite” tinha sido proibido de trabalhar na indústria do leite novamente, aguardava há dois anos para colocar uma tornozeleira eletrônica e o desfecho do processo judicial da Leite Compen$ado.

Como ‘alquimista’ produzia leite com soda cáustica sem ser identificado

O “mago do leite” teria sido contratado para assessorar na produção.

“Com a denúncia de 2024 se confirmou um novo risco e, para nossa surpresa, lá estava o alquimista – ou mago do leite. Era para ele estar usando tornozeleira eletrônica, era para sair a condenação dele da Leite 5. Mas, enquanto essas questões básicas não ocorrem, o que ele faz? Adultera leite e pior, aprimora seus mecanismos de ação, já que tem a fórmula exata da quantidade de soda cáustica para uma quantidade exata de litros de leite, fazendo com que os ajustes não sejam detectados nos exames”, ressalta o promotor de Justiça Mauro Rockenbach.

O promotor de Justiça Alcindo Luz Bastos da Silva Filho explica que a soda cáustica é usada para ajustar o PH do leite e diminuir a sua acidez e, ainda por cima, volatiza ou desaparece rapidamente, não sendo detectada nas análises.

“Além de aprimorarem as fórmulas para adulteração, também aprimoraram as práticas criminosas. Eles utilizam alguns códigos – ‘vitamina’ e ‘receita’ – para tentar despistar qualquer tentativa de investigação. Vale lembrar que as irregularidades não foram detectadas apenas no leite UHT, mas no leite em pó, em compostos lácteos para fazer bebidas derivadas do produto e no soro de leite. Por exemplo, sobre o composto lácteo, eles chegam a reprocessar o produto vencido para reutilizá-lo novamente. Já a água oxigenada ou peróxido de hidrogênio, serve para matar micro-organismos e recuperar produto em deterioração. Isso, sem falar da soda cáustica, que pode conter metais pesados, alguns, inclusive, cancerígenos”, destaca.

Leite com soda cáustica pode ter ido para escolas de cidade paulista

Segundo o Ministério Público, a fábrica acusada de produzir leite com soda cáustica já venceu e participa de várias licitações em muitas partes do país para fornecimento de laticínios. O órgão afirmou que a empresa foi vencedora de um certame para distribuir produtos derivados do leite para escolas de uma cidade paulista.

Sobre os lotes, o MPRS informa que aguarda exames mais detalhados para determinar exatamente os lotes que estão contaminados.

Via ND+

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