Publicado em: 11 de outubro de 2025
LSítio Jabuticabeira II, em Jaguaruna, foi utilizado como complexo funerário por mais de mil anos por sociedades sambaquieiras e pode ter abrigado até 43 mil sepultamentos.
As escavações arqueológicas no Sambaqui Jabuticabeira II, em Jaguaruna, foram retomadas por pesquisadores do Museu de Arqueologia e Etnologia da Universidade de São Paulo. O projeto, financiado pela FAPESP, investiga a diversidade cultural e a organização social dos povos que habitavam o litoral sul do Brasil antes da colonização. A professora Ximena Villagran, que coordena os trabalhos, destaca a relevância do sítio: “O Jabuticabeira II é emblemático. Recebemos um número recorde de voluntários de todo o país para esta nova etapa”.
Estudos anteriores revelam que o local, um dos sambaquis mais estudados do Brasil, funcionou como um cemitério monumental por mais de mil anos, com estimativas de até 43 mil indivíduos sepultados entre 3200 e 1500 anos antes do presente. A escavação emprega um protocolo minucioso: o sedimento é escavado por “fácies arqueológicas” – camadas definidas por composição e cor –, e todo material coletado passa por curadoria, incluindo pesagem, limpeza e secagem para análise futura.
A pesquisa é marcadamente interdisciplinar. Especialistas de diversas áreas trabalham de forma integrada: zooarqueólogos estudam conchas e restos de fauna, bioarqueólogos analisam ossos humanos, e geólogos investigam a composição do sedimento. Técnicas modernas, como análise de DNA antigo, já comprovaram que, há cerca de 1.200 anos, ocorria uma mistura genética entre populações costeiras e grupos do planalto, evidenciando interações complexas muito antes do que se supunha.
Os rituais funerários e a complexa organização social
Pesquisas acadêmicas detalham que o Jabuticabeira II não era um simples amontoado de conchas, mas uma construção intencional e planejada. As escavações revelam uma estratigrafia complexa, com camadas funerárias ricas em vestígios alternadas com camadas de cobertura de areia e conchas fragmentadas, que selavam ritualisticamente os sepultamentos. Os corpos eram enterrados em covas escavadas e acompanhados por rituais elaborados, que incluíam acessórios, ofertas de alimentos e, notavelmente, acessórios e estruturas de madeira. A seleção de espécies de conchas e plantas, como a Lauraceae e a Myrtaceae, era intencional, indicando um profundo conhecimento simbólico-ritualístico do ambiente. Essa repetição de práticas ao longo de séculos aponta para uma sociedade com forte transmissão cultural e organização heterárquica, onde a memória coletiva e o culto aos ancestiais reforçavam a identidade e a territorialidade do grupo.
Obs. Fotos ilustrativas da internet