Publicado em: 17 de julho de 2024
Foto: LEANDRO PRAZERES/BBC NEWS BRASILNo dia 26 de junho, o presidente da Bolívia, Luis Arce Catacora, enfrentou o que classificou como uma tentativa de golpe de Estado. O então comandante das Forças Armadas, general Juan José Zúñiga, liderou um grupo de militares que tentaram invadir a sede do governo, sem sucesso. Ele e um grupo de pelo menos outras 20 pessoas foram presas.
Mas apesar do impacto que as imagens tiveram ao redor do mundo, o que parece preocupar de fato o presidente Luis Arce não é uma nova sublevação militar, mas o fogo amigo de seu antigo aliado: o ex-presidente Evo Morales.
Os dois disputam quem será o candidato do MAS, principal partido de esquerda da Bolívia, às eleições presidenciais de 2025.
Contra o desejo de Morales, no entanto, há uma decisão do Tribunal Constitucional Plurinacional da Bolívia de dezembro de 2023 que vedou a possibilidade de que uma pessoa possa exercer mais de dois mandatos presidenciais no país.
Morales, no entanto, questiona essa decisão e vem alegando que está habilitado a disputar as eleições no ano que vem.
Morales e Arce eram aliados antigos. Arce foi ministro da economia durante os governos de Evo Morales, entre 2006 e 2019. Após a renúncia de Evo Morales em 2019, Arce contou com o apoio do líder cocaleiro, impedido de disputar as eleições, e foi eleito presidente em 2020.
O apoio, no entanto, acabou no ano seguinte e agora, segundo Arce, a ala “evista” do MAS na Assembleia Legislativa promove um boicote ao atual governo.
Em entrevista exclusiva à BBC News Brasil concedida na sede do governo boliviano, em La Paz, Luis Arce disse, sem apresentar provas, que a tentativa de golpe em 26 de junho teria ocorrido por “interesses estrangeiros” nos recursos naturais do país.
“Sempre por trás de todos os golpes de Estado que nosso país viveu tem havido interesses em controlar e dominar nossos recursos naturais”, disse Arce.
Arce também não poupou críticas ao seu antigo aliado. Segundo o presidente, Evo Morales quer voltar a ser presidente “por bem ou por mal” e classificou essa tentativa como uma “teimosia”.
“A teimosia de continuar sendo o candidato é o que está gerando tudo isso”, disse Arce referindo-se à fratura na esquerda boliviana.
Via BBC