Rússia reconhece que está em guerra contra Ucrânia após dois anos de conflito

Publicado em: 22 de março de 2024

Rússia reconhece que está em guerra contra Ucrânia após dois anos de conflito

Pelo menos duas pessoas morreram na Ucrânia depois que a Rússia lançou cerca de 90 mísseis e 60 drones explosivos contra a infraestrutura de energia elétrica do país, num ataque massivo durante a noite de quinta para sexta-feira (22). Um porta-voz do Kremlin assumiu pela primeira vez que o país trava uma guerra contra a Ucrânia. Antes, os russos classificavam a invasão como uma “operação especial”.

“Foram mais de 60 drones explosivos e quase 90 mísseis de diferentes tipos”, enumerou o presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, nas redes sociais, apresentando as suas “condolências às famílias daqueles que foram mortos por este terror”.

“Até o momento, há dois mortos e pelo menos oito feridos na região oeste de Khmelnytsky”, indicou o Ministério do Interior. “Há também seis feridos em Zaporíjia (sul) e três pessoas estão desaparecidas no local dos ataques”, acrescentou o órgão.

De acordo com o presidente ucraniano, os ataques visaram “centrais elétricas, linhas de alta tensão, uma barragem hidrelétrica, residências e até um ônibus elétrico”.

Foram observados cortes de energia, mas a extensão não foi detalhada. O governador da região de Kharkiv (nordeste), Oleg Syniegoubov, falou em “700 mil consumidores sem eletricidade”, mas sem dizer se eram famílias ou indivíduos afetados.

Uma das duas linhas de energia que abastecem a central nuclear ucraniana em Zaporíjia, ocupada por Moscou, foi cortada por um bombardeio, anunciou também nesta sexta-feira o ministro ucraniano da Energia, German Galushchenko.

“Esta situação é extremamente perigosa e ameaça desencadear uma emergência, porque em caso de corte desta última linha de comunicação com a rede elétrica nacional, a central nuclear de Zaporíjia estará à beira de um novo apagão”, informou a operadora ucraniana Energoatom, alertando para um possível acidente nuclear.

O ministro da Energia classificou o bombardeio noturno no país como “o maior ataque à indústria energética da Ucrânia nos últimos tempos”.

A Força Aérea ucraniana disse que a defesa antiaérea foi capaz de abater 55 dos 63 drones e 37 dos 88 mísseis.

Sete regiões sem energia elétrica após ataques
Autoridades de outras regiões da Ucrânia também relataram ataques a infraestruturas de energia durante a noite. Petro Andriushchenko, conselheiro do prefeito ucraniano da cidade de Mariupol, sob controle russo desde 2022, afirmou no Telegram, em publicação com fotos, que um míssil russo atingiu um ônibus elétrico que andava na região da hidrelétrica de Dnipro, matando os civis que viajavam nele. Nenhuma confirmação foi imediatamente disponibilizada pelas autoridades.

Oleksandr Symtchyshin, prefeito da cidade de Khmelnytskyi, no oeste do país, por sua vez descreveu “uma manhã horrível” com danos em infraestruturas e edifícios residenciais. “Há vítimas entre os civis”, escreveu ele em sua conta no Telegram.

As autoridades regionais de Kharkiv, Sumy (nordeste), Kryvyï Rig (centro), Ivano-Frankivsk, Vinnytsia e Khmelnytskyi (oeste) também relataram ataques às suas infraestruturas que provocaram cortes de energia.

“O objetivo não é apenas danificar, mas tentar novamente, como no ano passado, causar uma falha em grande escala no sistema energético do país”, disse o ministro da Energia.

Um morto em Belgorod
Zelensky ficou mais uma vez incomodado com a lentidão do apoio ocidental, já que a ajuda americana foi bloqueada durante meses devido a rivalidades políticas entre republicanos e democratas e o apoio da UE sofreu um atraso significativo.

“Os mísseis russos não estão atrasados, ao contrário dos pacotes de ajuda ao nosso país. Os drones não são indecisos, ao contrário de alguns políticos”, disse.

A Rússia já havia lançado um ataque massivo contra Kiev na madrugada de quinta-feira (21), o primeiro desde o início de fevereiro, mas a Ucrânia disse ter abatido cerca de trinta mísseis.

Vladimir Putin já tinha prometido que se vingaria do aumento dos ataques ucranianos nas últimas semanas contra o território russo.

O Kremlin garantia aos russos que a guerra não afetaria a vida quotidiana da população ou o território do país, mas com as eleições presidenciais russas realizadas neste mês de março, estes ataques aumentaram.

Uma pessoa morreu e várias outras ficaram feridas na manhã de sexta-feira num ataque na região russa de Belgorod, na fronteira com a Ucrânia, disse o governador local.

O Ministério da Defesa russo disse que destruiu oito foguetes disparados pela Ucrânia sobre esta região nesta manhã.

Estado de guerra
A Rússia está “em estado de guerra” contra a Ucrânia, reconheceu o porta-voz do Kremlin numa entrevista publicada sexta-feira, depois de ter insistido durante muito tempo em apresentar o ataque contra o seu vizinho, lançado há dois anos, como uma “operação especial” e rejeitado o uso da palavra “guerra”.

“Estamos em um estado de guerra. Sim, começou como uma operação militar especial, mas assim que todo este bando foi formado, quando o Ocidente coletivo participou em tudo isto ao lado da Ucrânia, para nós, tornou-se uma guerra”, disse Dmitry Peskov em entrevista à mídia “Argoumenty I Fakty”.

“Estou convencido disso e todos devem compreendê-lo para se mobilizarem pessoalmente”, acrescentou.

Na entrevista, Peskov recordou também o objetivo do Kremlin de conquistar completamente as quatro regiões ucranianas (Kherson, Donetsk, Lugansk e Zaporíjia), cuja anexação Moscou reivindica desde setembro de 2022.

Vários altos funcionários, durante os dois anos de conflito, já usaram a palavra “guerra” em declarações públicas, mas sempre em referência à guerra que o Ocidente travaria contra a Rússia através da Ucrânia e não no que diz respeito ao ataque russo em si.

RFI

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