Publicado em: 14 de novembro de 2025
Quarto maior produtor do país, o estado vê o valor pago ao produtor despencar e busca soluções legislativas contra a importação de lácteos.
Uma forte crise no setor leiteiro de Santa Catarina ameaça a sustentabilidade de mais de 30 mil famílias que dependem da atividade. O preço pago ao produtor catarinense sofreu uma queda acentuada, passando de R$ 2,66 por litro em outubro de 2024 para R$ 2,22 em 2025. O estado, que é o quarto maior produtor nacional e responde por cerca de 8% do leite no país, se vê diante de um cenário que especialistas classificam como preocupante.
De acordo com o presidente do Sindileite, Selvino Giesel, a crise é uma “tempestade perfeita”. De um lado, o consumo de leite no Brasil caiu, afetado pela perda do poder aquisitivo das famílias com renda de até R$ 3,5 mil, principal público consumidor. De outro, a produção nacional aumentou. Somado a isso, o prejuízo é agravado pela importação de leite em pó de países do Mercosul, como Argentina e Uruguai, que entra no mercado a preços até 30% mais baixos, mesmo precisando ser reconstituído para ser comercializado como leite fluido.
Em resposta, frentes legislativas foram acionadas. Na Assembleia Legislativa de Santa Catarina, um projeto de lei dos deputados Altair Silva (PP) e Oscar Gutz (PL) quer proibir a reconstituição do leite em pó importado para venda como leite líquido no estado. A proposta recebeu apoio do presidente da Casa, Júlio Garcia (PSD), que prometeu agilidade. Paralelamente, tramita na Câmara dos Deputados um projeto de lei da deputada federal Daniela Reinehr (PL) com o mesmo objetivo para todo o território nacional. Uma comissão especial também foi formada para pressionar o governo federal por uma fiscalização sanitária mais rigorosa nas importações.
Saiba mais:
A dependência brasileira da importação de lácteos não é nova, mas se intensificou. Dados da Secretaria de Comércio Exterior mostram que, em 2023, o Brasil importou cerca de 120 mil toneladas de leite em pó, um aumento significativo em relação aos anos anteriores. A maior parte desse volume veio justamente do Uruguai e da Argentina, países com produção altamente tecnificada e custos menores, o que os torna extremamente competitivos. Enquanto o setor nacional debate a modernização das fazendas e ganhos de escala, a pressão do produto estrangeiro continua a ser um dos maiores desafios para a cadeia produtiva local.

19 de dezembro de 2024