Publicado em: 3 de junho de 2024
AP - Jehad AlshrafiO primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, enfrenta pressão interna e externa para “finalizar” um acordo de cessar-fogo em três etapas com o grupo Hamas na Faixa de Gaza. Mas enquanto os ministros de extrema direita de seu governo se opõem ao projeto apresentado pelo presidente americano, Joe Biden, as forças israelenses continuam a bombardear várias localidades na Faixa de Gaza.
Bombardeios israelenses atingiram vários setores da Faixa de Gaza, neste domingo (2), incluindo a cidade de Rafah (sul), na fronteira com o Egito. Israel ignora, por enquanto, o apelo urgente lançado no sábado (1°) pelos mediadores internacionais do conflito – Catar, Egito e Estados Unidos –, para que as partes “finalizem” um acordo de cessar-fogo, após oito meses de guerra.
Nas últimas 24 horas, 60 pessoas morreram na ofensiva israelense em Gaza, elevando para 36.439 o número de mortos no território palestino desde o início da guerra, segundo dados do Ministério da Saúde do governo de Gaza liderado pelo movimento islâmico. O conflito iniciou com um ataque sem precedentes do Hamas em 7 de outubro contra Israel.
Apesar dos protestos da comunidade internacional, o Exército israelense dá continuidade à ofensiva lançada em 7 de maio em Rafah, com o objetivo de destruir os últimos batalhões do Hamas. Nas últimas semanas, cerca de um milhão de palestinos fugiram dessa cidade, que se tornou o epicentro da guerra.
“Devido às operações israelenses, milhares de famílias foram forçadas a fugir. Os 36 abrigos da agência da ONU para refugiados palestinos (UNRWA) em Rafah estão agora vazios”, afirmou a organização.
No domingo, testemunhas disseram à AFP terem visto veículos militares israelenses no oeste e centro de Rafah. Eles relataram fortes explosões, combates, disparos contínuos com drones e helicópteros Apache.
A organização Crescente Vermelho Palestino afirmou que está recebendo pedidos de ajuda de civis em Rafah, mas que era “muito difícil” alcançá-los “devido aos contínuos bombardeios israelenses”.
No norte de Gaza, três palestinos morreram, incluindo uma criança, num bombardeio que destruiu a casa onde estavam no bairro de Al-Darraj, segundo uma fonte hospitalar. No centro, os setores de Deir al-Balah, Bureij e Nousseirat foram alvo de ataques.
O Exército relatou operações “direcionadas” em Rafah e no centro de Gaza. Nas últimas 24 horas, “30 alvos terroristas, incluindo depósitos de armas e células armadas” foram atacados, segundo autoridades militares de Israel.
Como mediadores do conflito, o Catar, os Estados Unidos e o Egito fizeram um apelo conjunto no sábado “ao Hamas e a Israel para finalizarem o acordo de cessar-fogo baseado nos princípios estabelecidos pelo presidente Joe Biden (…), que reúne as exigências de todas as partes”.
Na sexta-feira, Biden anunciou um plano proposto a ele por Israel que visa alcançar uma trégua permanente e apelou para o Hamas aceitar a proposta. O roteiro, em três etapas, inclui na primeira fase um cessar-fogo de seis semanas, a retirada das tropas israelenses “de todas as áreas densamente povoadas de Gaza” e a libertação de alguns reféns – mulheres e doentes – sequestrados pelo Hamas.
A segunda etapa prevê o fim “permanente” das hostilidades e a libertação de todos os reféns. A reconstrução da Faixa de Gaza ocorreria numa terceira e última etapa. Os contornos da segunda etapa do plano serão negociados durante o cessar-fogo, segundo Biden.
Mas Netanyahu insistiu, no sábado, que um cessar-fogo e o fim da guerra em Gaza estão condicionados à “destruição do Hamas” e à “libertação de todos os reféns”. O plano explicitou as divisões internas no gabinete do chefe de governo.
Depois do ataque de 7 de outubro em Israel, que resultou na morte de 1.189 pessoas, a maioria civis, segundo uma contagem da AFP baseada em números oficiais israelenses, Netanyahu prometeu “destruir o Hamas”. Das 252 pessoas sequestradas durante o ataque, 121 ainda estão detidas em Gaza, das quais 37 estão mortas, de acordo com informações da inteligência israelense.
Netanyahu sob pressão
Os ministros de extrema direita Itamar Ben Gvir e Bezalel Smotrich ameaçaram deixar o governo, caso Netanyahu aceite condições interpretadas pelos ortodoxos religiosos como uma “vitória do terrorismo”. No entanto, recebeu o apoio do líder da oposição Yair Lapid e do presidente Isaac Herzog, que sublinhou o seu “total apoio a um acordo que permitiria a libertação dos reféns (…) e preservaria os interesses de segurança do Estado”.
O Hamas disse apenas que considerava “positivo” o roteiro anunciado por Biden, depois de ter reiterado as suas exigências de um cessar-fogo permanente e de um acordo de retirada total de Israel de Gaza.
O Hamas assumiu o poder no enclave em 2007, dois anos após Israel se retirar do território que ocupou durante 38 anos. O movimento islâmico palestino é considerado terrorista por Israel, pelos Estados Unidos e pela União Europeia.
Encontro no Egito
O Egito acolheu neste domingo uma reunião no Cairo com representantes israelenses e americanos dedicada à reabertura da passagem fronteiriça de Rafah, crucial para a entrada de ajuda humanitária em Gaza, anunciaram meios de comunicação egípcios, sem especificar se foi alcançado um acordo.
Por ocasião desta reunião, o Egito reafirmou a sua recusa em ver o lado palestino do ponto de passagem de Rafah controlado por Israel, disse “um alto funcionário” do governo citado pela Al-Qahera News, um canal de TV próximo da inteligência egípcia. Esta passagem, considerada um ponto essencial à entrada de ajuda humanitária no enclave palestino, está sob controle de Israel desde que o exército iniciou a ofensiva contra os batalhões do Hamas em Rafah, em 7 de maio.
Segundo esta mesma fonte, o Egito reiterou “a necessidade de uma retirada israeliense do lado palestino da passagem de Rafah para a retomada das suas atividades” no terminal de cargas. A delegação egípcia atribuiu “total responsabilidade” a Israel por bloquear a entrada de ajuda humanitária em Gaza.
O Egito ainda insistiu na necessidade de se restabelecer imediatamente a travessia diária de 350 caminhões de ajuda aos palestinos, com alimentos, remédios, material médico-hospitalar e combustível para a população. A ONU estima que o enclave deveria receber pelo menos 500 caminhões de ajuda humanitária por dia, para satisfazer às necessidades do território.
A ofensiva israelense de grande envergadura causou uma catástrofe humanitária sem precedentes na Faixa de Gaza. Com a maioria dos cerca de 2,4 milhões de residentes deslocados pela guerra, as Nações Unidas afirmam que já não há lugar seguro no território devastado por Israel.
Segundo as autoridades israelenses, 764 caminhões egípcios que transportavam ajuda entraram em Gaza esta semana através da passagem de Kerem Shalom, na fronteira de Israel. Mas as ONG continuam a afirmar que a ajuda nem sempre chega à população.
RFI com AFP