Publicado em: 24 de julho de 2024
Foto: Pedro Pardo/Pool via REUTERSO Hamas anunciou nesta terça-feira (23) que assinou um acordo de “unidade nacional” em Pequim com outras organizações palestinas, incluindo seu rival Fatah, um texto que, segundo a China, prevê um governo conjunto após a guerra em Gaza. Também nesta terça, Israel Katz, ministro das Relações Exteriores de Israel, criticou o Fatah, do presidente palestino Mahmoud Abbas, por ter assinado um acordo pós-guerra em Gaza com o movimento islâmico Hamas, na China.
“O Hamas e o Fatah assinaram um acordo na China para o controle conjunto de Gaza após a guerra. Em vez de rejeitar o terrorismo, Mahmoud Abbas abraça os assassinos e estupradores do Hamas, revelando assim sua verdadeira face”, disse Israel Katz em um comunicado.
“Na realidade, isso não acontecerá porque o Hamas será esmagado e Abbas estará observando Gaza de longe”, acrescentou, após mais de nove meses de guerra entre Israel e o Hamas na Faixa de Gaza.
Um total de 14 facções se reuniram em Pequim nos últimos dias como parte de uma nova tentativa, patrocinada pela China, de encontrar compromissos entre os vários componentes do cenário político palestino.
O ministro das Relações Exteriores da China, Wang Yi, deu as boas-vindas a um alto funcionário do Hamas, Moussa Abou Marzouk, bem como a um enviado do movimento palestino rival Fatah, Mahmoud Aloul.
De acordo com o chefe da diplomacia chinesa, o acordo prevê a criação de um “governo interino de reconciliação nacional”.
“Hoje, assinamos um acordo de unidade nacional e declaramos que o caminho a ser seguido para concluir esse processo é a unidade nacional”, disse Moussa Abou Marzouk após as conversas.
O anúncio foi feito mais de nove meses após o início da guerra em Gaza, que começou em 7 de outubro de 2023, quando comandos do Hamas se infiltraram no sul de Israel a partir de Gaza e realizaram um ataque sangrento. A ofensiva resultou na morte de 1.197 pessoas, a maioria civis, de acordo com uma contagem da agência AFP baseada em dados oficiais israelenses.
Em resposta, Israel lançou uma ofensiva em grande escala em Gaza, que deixou mais de 39.000 mortos, a maioria civis, de acordo com dados do Ministério da Saúde do governo de Gaza, liderado pelo Hamas.
Intensa rivalidade
Os combates incessantes mergulharam Gaza em uma grave crise humanitária.
A China está desempenhando o papel de mediadora no conflito, que se tornou ainda mais complexo devido à intensa rivalidade entre o Hamas, o grupo islâmico que governa a Faixa de Gaza, e o Fatah, o partido político nacionalista que governa parcialmente a Cisjordânia ocupada.
Wang Yi saudou o anúncio desta terça-feira.“O desenvolvimento mais significativo é o acordo para formar um governo interino de reconciliação nacional para a governança pós-guerra de Gaza”, disse aos repórteres.
“A reconciliação é uma questão interna das facções palestinas, mas ao mesmo tempo não pode ser alcançada sem o apoio da comunidade internacional.”
São os próprios palestinos que devem administrar a Palestina e não as potências estrangeiras
Ele pediu a outros países que apoiem esse possível novo governo palestino para que ele possa “controlar efetivamente Gaza e a Cisjordânia”.
Israel e os Estados Unidos indicaram que não aprovariam um plano pós-guerra que incluísse o Hamas, que eles consideram uma organização terrorista.
São “os próprios palestinos que devem administrar a Palestina”, e não as potências estrangeiras, enfatizou Wang Yi na terça-feira.
A China mantém boas relações com Israel, mas também apoia a causa palestina há décadas, reconhecendo o Estado da Palestina e fazendo campanha por uma solução de dois Estados.
“Nosso amor”
O principal funcionário do Fatah, Mahmoud Aloul, agradeceu a Pequim nesta terça-feira por seu “apoio inabalável” aos palestinos. “Para a China: vocês têm o nosso amor, têm toda a nossa amizade, em nome de todo o povo palestino”, declarou.
Embora o futuro do acordo anunciado nesta terça seja incerto, ele faz da China a única potência mundial que parece capaz de aproximar os palestinos rivais. E, assim, influenciar os participantes do conflito.
Wang Yi reiterou seu apelo por “um cessar-fogo abrangente, duradouro e sustentável na Faixa de Gaza o mais rápido possível, para garantir o acesso tranquilo à ajuda humanitária e ao socorro”.
“Não pode haver desculpas para que civis sejam feridos e para que a guerra se prolongue”, insistiu.
Nos últimos anos, a China fortaleceu suas relações comerciais e diplomáticas com o Oriente Médio, grande parte do qual está tradicionalmente sob influência norte-americana.
Ela supervisionou e facilitou a espetacular reaproximação diplomática no ano passado entre duas grandes potências regionais, o Irã e a Arábia Saudita. O gigante asiático já havia sediado conversas entre representantes do Hamas e do Fatah em abril.
A China deseja continuar a “desempenhar um papel construtivo na manutenção da paz e da estabilidade no Oriente Médio”, enfatizou Wang Yi.
Via RFI