Publicado em: 22 de junho de 2024
Foto ilustrativa. © AP - Mahmoud IlleanUm mês de detenção, um mês de provação. O vídeo de um cidadão de Gaza que acaba de ser libertado após ser preso em Israel se tornou viral. Ele provocou indignação entre palestinos e organizações israelenses de direitos humanos. O homem, suspeito por Israel de pertencer ao Hamas, explicou que foi submetido a vários abusos e casos de tortura em prisões israelenses foram relatados desde o início da guerra em Gaza.
Olhos arregalados. Olhar fixo. Badr Dahlan não pisca. “Tenho 30 anos. Não, 29”, ele corrige. O jovem está desorientado. Abatido, ele parece traumatizado. Badr Dahlan acaba de ser libertado pelo exército israelense e enviado de volta a Gaza, juntamente com outros 33 detidos.
Com a mandíbula cerrada e os lábios franzidos, ele responde às perguntas de alguns jornalistas: “Sim, fui torturado, eletrocutado. Eles me bateram na cabeça e tentaram cortar uma das minhas pernas”, diz em um tom arrastado.
Badr Dahlan tem dificuldade de se expressar, e se encontra em estado de choque. Com as costas curvadas, a cabeça baixa, as mãos nos joelhos, seu corpo treme com movimentos involuntários. Ele se balança, seus pulsos e tornozelos estão dilacerados. Ele possui marcas de algemas nos braços.
Outro detento de Gaza, Bahaa Abu Rokba, entrevistado pela RFI em março passado, testemunhou o mesmo abuso. “Éramos amarrados com as mãos e os pés 24 horas por dia. Fui torturado por soldados israelenses durante os interrogatórios”, confessou na época.
Sua versão foi confirmada por um médico israelense que soou o alarme. Entrevistado há algumas semanas, ele concordou em contar, sob condição de anonimato, os horrores sofridos pelos detentos palestinos na prisão de Sdé Teiman, descrita como a “Guantánamo de Israel“.
Em resposta à pressão internacional, o Estado hebreu anunciou, em 11 de junho, o fechamento gradual desse centro de detenção, onde os habitantes de Gaza são mantidos.
Em resposta às suas repetidas acusações, uma comissão de inquérito da ONU concluiu na quarta-feira (12) que Israel é responsável por crimes contra a humanidade, incluindo “extermínio”, na Faixa de Gaza. A comissão também acusou as autoridades israelenses e os grupos armados palestinos de crimes de guerra desde 7 de outubro.
“Crimes contra a humanidade de extermínio, assassinato, perseguição baseada em gênero visando homens e meninos palestinos, transferência forçada, tortura e tratamento desumano e cruel foram cometidos” por Israel, concluiu um relatório da comissão, que foi criada pelo Conselho de Direitos Humanos após a guerra de onze dias entre Israel e o Hamas, em maio de 2021.
“É imperativo que todos aqueles que cometeram crimes sejam responsabilizados”, disse em um comunicado à imprensa a presidente da comissão, a sul-africana Navi Pillay, ex-alta comissária para os Direitos Humanos, presidente do Tribunal Penal Internacional para Ruanda e juíza do Tribunal Penal Internacional (TPI).
A embaixada israelense em Genebra acusou imediatamente a comissão de “discriminação sistemática” contra o país.
Via RFI