Publicado em: 20 de maio de 2025
Foto: Marcelo Camargo/Agência BrasilUm levantamento nacional revelou que ao menos cinco postos de combustíveis em Santa Catarina estariam sob controle de facções criminosas. A pesquisa, realizada por entidades do setor, identificou indícios de que o crime organizado se ramifica pelo Brasil por meio da infiltração nesse tipo de negócio. Em todo o país, são 941 postos operando sob influência direta ou indireta de organizações criminosas.
Para chegar a esse número, o estudo levou em conta indícios como participação societária de pessoas ligadas ao crime, uso de “laranjas” e conexões entre redes de postos. O Brasil possui atualmente cerca de 42 mil postos de combustíveis.
Segundo o levantamento, o estado mais afetado é São Paulo, com 290 postos ligados ao crime organizado. Em seguida aparecem Goiás (163), Rio de Janeiro (146) e Bahia (103).
A atuação das facções no setor tem como principal objetivo a lavagem de dinheiro proveniente de atividades ilícitas. Muitos dos responsáveis por esses postos têm histórico prisional ou estão envolvidos em investigações policiais.
O delegado Daniel Régis, diretor da DEIC (Diretoria Estadual de Investigações Criminais) em Santa Catarina, comentou os dados. Para ele, embora o número apontado para o estado seja relativamente baixo, isso não significa tranquilidade.
“O que há de certo é que a criminalidade busca cada vez mais fontes alternativas para lavar esse dinheiro. Pode ser cinco postos hoje, pode ser 30 amanhã, pode ser nenhum, desde que com repressão à altura. Então esse número varia, não dá pra dizer se é muito ou pouco”, afirmou.
Régis também ressaltou que, embora os postos de combustíveis sejam utilizados pelas facções, hoje boa parte da lavagem de dinheiro acontece por meio da compra e venda de imóveis.
Setor vulnerável e com baixa fiscalização
O especialista em segurança pública Welliton Caixeta Maciel destacou que a presença do crime organizado nesse setor não é recente. Segundo ele, a infiltração remonta ao final da década de 1990 e reflete a adaptação das facções às fragilidades do sistema.
“A escolha do setor de combustíveis tem relação com a precariedade da fiscalização e com a facilidade de expansão territorial e econômica das facções, como o PCC, Comando Vermelho e Família do Norte. Além disso, os postos oferecem estrutura para lavagem de dinheiro e recrutamento de membros”, analisou.
Maciel acrescenta que, diante do endurecimento das ações de repressão aos crimes mais tradicionais, como o tráfico de drogas e armas, as organizações têm diversificado suas frentes de atuação, incluindo o mercado de combustíveis como nova fonte de lucros ilícitos.
Impacto em toda a cadeia
O presidente do Instituto Combustível Legal (ICL), Emerson Kapaz, reforçou que o impacto da criminalidade organizada é sentido em toda a cadeia produtiva do setor.
“Temos distribuidoras enfrentando dificuldades ou sendo cooptadas pelo crime organizado. E, na ponta, vemos a infiltração nos postos. Costumamos dizer que toda a cadeia está sendo contaminada por essa atuação”, afirmou.
A pesquisa acende um alerta sobre a necessidade de maior fiscalização e mecanismos eficazes de controle na comercialização de combustíveis, setor que movimenta bilhões de reais anualmente e que se tornou alvo estratégico para o crime organizado no Brasil.
6 de novembro de 2024