Casa Guido cria grupo de apoio a mães e familiares que perderam os filhos

Publicado em: 18 de fevereiro de 2025

Casa Guido cria grupo de apoio a mães e familiares que perderam os filhos

A vida, para muitas mães e pais, pode ser dividida em um “antes e depois” – quando chega o momento em que não se espera, quando, assim como uma tempestade avassaladora, chega sem avisar e carrega aquilo que mais se ama, o próprio filho. Enfrentar uma perda é uma dor que só é compreendida por quem já vivenciou e quando se trata de perder um filho para o câncer, a dimensão é ainda maior.

Pensando em dar apoio e acolhimento àqueles que passam por essa situação, surgiu a necessidade de criar um grupo de apoio a mães e familiares que passam ou já passaram pelo processo do luto. O primeiro encontro do grupo, que deve se reunir mensalmente, foi realizado no sábado (15). Os familiares participaram de uma roda de conversa na qual puderam compartilhar suas histórias e suas dores. “Esse grupo, para mim, significa um ‘lugar seguro’, onde eu posso falar sobre as minhas fraquezas, as minhas dores, as minhas revoltas. Um lugar onde sorrimos e choramos juntas”, declara a mãe da Sara Gabrielly, Maria Clara Pottier.

A roda de conversa foi mediada pelas profissionais da Casa Guido – Vânia Gusmão, psicóloga, e Maira Costa, assistente social. “Surgiu a ideia de criar um grupo de apoio pensando na necessidade de cada mãe enlutada e familiar enlutado de falar de seu momento de vida e poder vivenciar o luto e suas etapas. Nosso grupo busca reaprender a viver com esta dor; o grupo ajuda a mãe a perceber que não está sozinha e que outras pessoas experimentam esta mesma dor e dificuldade. Existe acolhimento e troca de experiências”, explica Vânia.

Conforme a psicóloga, o trabalho de preparação da equipe e lapidação da ideia já começou há algum tempo. “Alguns meses antes, demos início a um grupo no Whatsapp e começamos a pensar em ideias de nomes. Partimos da reflexão sobre a nomenclatura, já que quando um filho perde seus pais, fica órfão (a). Quando perdemos o marido ou a esposa, ficamos viúvos (as). E quando se perde um filho? Não tem nome. Por isso, pensamos em dar o nome do grupo de ‘Mães de anjos’ e assim ficou”, comenta.

A psicóloga acrescenta que o objetivo é fazer com que elas sejam protagonistas do grupo. “Hoje estamos com 12 mães e esperamos que a partir da experiência de vida delas, o grupo possa ser como um abraço, um colo para outros familiares também, que além de relatarem suas experiências possam também alertar quanto à prevenção”, salienta. A ideia é consolidar e fortalecer o grupo, mantendo os encontros.

Muitas vezes, as mães relatam se sentirem sozinhas após o luto. “Sou muito grata à Casa Guido, queria eu ter conhecido antes no primeiro câncer que meu filho teve, pois eu não conhecia nada aqui, eu sou de Porto Alegre e faz oito anos que moro em Criciúma. Foi muito bom estar com pessoas que nos entendem e que não vão simplesmente nos falar ‘Ah, você tem que ser forte’ e virar as costas. Foi uma tarde ótima de conversa, fazia tempo que eu não sabia o que era ficar umas horinhas fora de casa e com outras pessoas”, conta a mãe do Christian, Caroline Ferreira.

“Para quem está passando pelo processo de luto, é importante ser ouvido, devemos compreender seus sentimentos e ver as possíveis demandas que surgem na família após esse processo”, declara a assistente social da Casa Guido, Maira Costa.

A ideia é fazer com que as rodas de conversa sejam um lugar onde encontrar força e abrigo. “Gostaria de agradecer à Casa Guido pela tarde, que foi muito boa, proveitosa. Gostei muito de rever umas mamães que eu já conhecia e gostei de conhecer as que eu ainda não conhecia. Uma pena que nem todas conseguiram ir, mas espero que na próxima consigam, pois é muito bom”, relata a mãe da Heloisa, Amanda Soratto.

Vânia conta que durante a roda de conversa, as mães compartilharam sobre como foi o processo quando os filhos estavam passando pelo tratamento e o quão fortes foram, trazendo essa força para dentro de cada uma delas.

“Ao mesmo tempo que vemos elas em uma situação de fragilidade em meio à dor, vemos elas fortes e sabemos que mostrar a vulnerabilidade também é importante. Quando a criança vem a óbito, vem uma outra fase e cada um lida com o luto à sua maneira. É importante que chorem, que permitam-se chorar. Precisamos viver essa tristeza toda para que, lentamente, elas possam voltar a sentir as outras emoções. Procurem ajuda com outras mães enlutadas que, apesar de tudo, podem ouvi-las e acolhê-las”, ressalta.

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