A cidade gelada que abastece o Brasil de maçãs

Publicado em: 29 de outubro de 2025

A cidade gelada que abastece o Brasil de maçãs

Com um terço da produção nacional, São Joaquim transforma o frio intenso em frutas doces, crocantes e de qualidade superior que geram riqueza e empregos.

Em São Joaquim, no planalto serrano de Santa Catarina, o frio que atrai turistas em busca de neve é o mesmo que garante a qualidade e a produtividade das maçãs. Localizada a 1.360 metros de altitude, a cidade é responsável por 34% da produção nacional da fruta, com uma safra de aproximadamente 270 mil toneladas em 2024. A expectativa para a próxima safra é de um salto de 30%, chegando a 370 mil toneladas, impulsionada por mais de 900 horas de frio registradas neste ano – uma condição essencial para uma brotação e frutificação vigorosas.

A maçã movimenta a economia local de forma avassaladora: 80% da renda municipal vem da fruticultura, que injetou R$ 1 bilhão no PIB da cidade, estimado em R$ 1,2 bilhão. A cadeia produtiva sustenta cerca de 2.050 produtores e gera milhares de empregos diretos e indiretos, da colheita ao processamento industrial. A qualidade única da fruta, com sua coloração intensa, crocância e sabor doce, rendeu à maçã Fuji da região o cobiçado selo de Indicação Geográfica (IG), um reconhecimento formal de sua origem e qualidade superiores.

Cerca de 90% da safra é consumida no mercado interno, mas as exportações vêm ganhando força e quase dobraram em 2025, com projeções de embarque de até 45 mil toneladas para países como Países Baixos, Reino Unido e Emirados Árabes. A combinação de noites frias e dias amenos da serra catarinense é o segredo para uma fruta com elevado teor de açúcar, bom equilíbrio de acidez e uma longa vida de prateleira.


Saiba mais:

A maçã brasileira, tal como a conhecemos hoje, é fruto de uma revolução silenciosa capitaneada pela pesquisa catarinense. Na década de 1970, com a criação do Programa de Fruticultura de Clima Temperado (Profit), pesquisadores da Epagri importaram e testaram mais de 500 variedades de macieira até encontrar as duas que se adaptariam perfeitamente ao nosso clima: a Gala e a Fuji, que hoje representam 95% da produção nacional. O programa de melhoramento genético da Epagri, um dos mais importantes da América do Sul, focou em desenvolver cultivares mais resistentes a doenças comuns em climas quentes e úmidos, o que reduziu drasticamente o uso de pesticidas. Esse trabalho, premiado em 2022 na categoria agricultura sustentável, foi crucial para transformar uma fruta tipicamente estrangeira em um símbolo de inovação e qualidade da agricultura nacional.

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