Publicado em: 5 de novembro de 2025
Damaris Vitória foi absolvida por falta de provas e faleceu 74 dias depois de recuperar a liberdade, após lutar contra um câncer diagnosticado na cadeia.
Damaris Vitória Kremer da Rosa, de 26 anos, morreu no final de outubro vítima de um câncer no colo do útero, diagnosticado enquanto ela cumpria uma prisão preventiva que durou seis anos. Dois meses após ser finalmente absolvida por um conselho de sentença, que considerou a falta completa de provas contra ela, a jovem não resistiu à doença. O caso, que ganhou grande repercussão nacional, foi sepultado na última segunda-feira (27) em Araranguá.
A tragédia pessoal de Damaris foi agravada pelas sucesivas negativas do sistema judiciário. A jovem foi acusada de assassinar um homem que, segundo a defesa, havia abusado sexualmente dela. Mesmo com relatos de problemas de saúde, incluindo sangramentos e dores abdominais, diversos pedidos para revogação da prisão foram negados pelo Ministério Público e indeferidos pela Justiça. Ela passou por penitenciárias em Sobradinho, Lajeado, Santa Maria e Rio Pardo antes de ter a prisão convertida para domiciliar apenas em março de 2025, devido ao agravamento do câncer.
Em um desabafo nas redes sociais, Allen Silva, namorado de Damaris, expressou a dor e a revolta do casal. “Aí, quando o Estado viu que já não tinha o que fazer no caso dela, resolveu deixar ir pra casa. Vivemos muitas coisas nesses dias, conseguimos passar por bons momentos juntos, mas fica o sentimento da injustiça”, declarou. O julgamento que a absolveu só ocorreu em agosto, e ela faleceu 74 dias após a decisão que reconheceu sua inocência.
Saiba mais
A tragédia de Damaris escancara uma crise mais ampla no sistema prisional brasileiro. Segundo o Levantamento Nacional de Informações Penitenciárias (Infopen), o país possui uma das maiores populações carcerárias do mundo, com um déficit crônico de vagas e condições sanitárias precárias que facilitam a proliferação de doenças. O câncer de colo do útero, que vitimou Damaris, é uma doença tratável e com altas chances de cura quando diagnosticada precocemente, um contraste brutal com a realidade do atendimento médico penitenciário, frequentemente apontado por entidades de direitos humanos como insuficiente e desumano.