Publicado em: 18 de setembro de 2025
O auge da temporada de avistagens de baleias-francas em 2025 já chama atenção pelo número expressivo de animais identificados no litoral sul do Brasil. Um total de 185 baleias-francas foi registrado entre os municípios de Torres (RS) e Florianópolis (SC), segundo dados do monitoramento aéreo do Programa de Monitoramento de Cetáceos da SCPAR Porto de Imbituba.
Deste total, foram contabilizados 90 pares de mães com filhotes e cinco adultos solitários. Em Santa Catarina, os maiores agrupamentos foram observados em Imbituba e Palhoça, com destaque para os trechos entre as praias da Ribanceira e Ibiraquera, onde 38 baleias foram avistadas. Outros pontos de concentração incluem a Praia do Siriú, com 32 animais, e a Praia da Pinheira, com 30 registros.
A ação contou com a execução da Acquaplan Tecnologia e Consultoria Ambiental, em parceria com o Projeto Franca Austral (ProFRANCA), realizado pelo Instituto Australis e patrocinado pela Petrobras, por meio do Programa Petrobras Socioambiental.
De acordo com Eduardo Renault, gerente de pesquisa do ProFRANCA, o monitoramento aéreo é essencial para avaliar o progresso na recuperação da espécie. “Com esses dados, conseguimos estimar o tamanho populacional e as taxas de crescimento. Quando encontramos um grande número de baleias, aumenta a chance de reidentificarmos indivíduos já conhecidos, o que fortalece os modelos estatísticos que usamos”, explicou.
Durante os sobrevoos, uma equipe composta por dois observadores e um fotógrafo realizou o censo, a localização e o registro fotográfico dos animais. As imagens captadas permitem a identificação individual com base nas calosidades presentes na cabeça das baleias — uma espécie de “impressão digital” natural.
Entre os indivíduos identificados nesta temporada estão baleias já conhecidas dos pesquisadores, como Zimba e Olívia, esta última avistada na Praia da Gamboa, em Garopaba.
Outro destaque foi o retorno de Sloughy, baleia nascida em Santa Catarina em 2002 e que ganhou notoriedade ao ser a primeira baleia-franca nascida no Brasil a ser registrada nas Ilhas Geórgia do Sul, uma das principais áreas de alimentação da espécie no Atlântico Sul.
Além dos sobrevoos, o monitoramento terrestre realizado pela Acquaplan vem sendo conduzido de forma contínua há 17 anos em dois pontos fixos no entorno do Porto de Imbituba, entre os meses de julho e novembro. As observações fazem parte do Plano de Controle Ambiental (PCA) do porto.
Segundo a oceanógrafa Camila Amorim, os dados coletados permitem ajustar as operações portuárias para preservar a integridade das baleias durante atividades como manobras de navios. “O acompanhamento direto permite observar comportamentos como descanso, natação e interação entre mãe e filhote”, destacou.
Paralelamente, o ProFRANCA realiza monitoramento terrestre em 15 pontos fixos da Área de Proteção Ambiental (APA) da Baleia-Franca, entre agosto e novembro. O objetivo é entender padrões de distribuição, abundância e comportamento dos cetáceos ao longo do litoral.
Apesar do crescimento nos registros, a baleia-franca-austral continua listada como espécie ameaçada de extinção no Brasil. Estima-se uma população de cerca de 800 indivíduos, com uma taxa de crescimento anual de 4,8%, conforme dados consolidados de 15 anos de monitoramento.
A continuidade das ações de acompanhamento e pesquisa é considerada fundamental para garantir a recuperação da espécie, que por séculos foi alvo intenso da caça no litoral brasileiro.
