Publicado em: 24 de março de 2024
FOTO: AFP - CLARENS SIFFROYA Organização Internacional para as Migrações (OIM) alerta que, no espaço de duas semanas, mais de 33 mil pessoas deixaram a área metropolitana de Porto Príncipe, capital do Haiti, para fugir da escalada de violência no país. Nesta sexta-feira (22), o dia amanheceu com vários corpos espalhados pelas ruas de diferentes bairros da cidade.
A capital guarda vestígios de vários ataques de gangues armadas na quinta-feira (21) e de uma operação militar que tirou a vida de um de seus líderes, Ti Grèg. Um correspondente da AFP viu os corpos sem vida, muitos deles carbonizados, no centro de Porto Príncipe e no bairro de Delmas.
Um morador também viu corpos em Pétion-Ville, um município rico nos arredores da capital, onde gangues tentaram ganhar terreno esta semana. Diante do terror dos criminosos, que controlam quase 80% da capital, a população ergueu barricadas em algumas estradas para se proteger de assaltos.
“Nas últimas semanas, os ataques armados se intensificaram na área metropolitana de Porto Príncipe. Além de criarem deslocamentos dentro da zona, os ataques e a insegurança generalizada levam cada vez mais pessoas a abandonar a capital para encontrar refúgio nas províncias, correndo o risco de passar por estradas controladas por gangues”, explicou a Organização Internacional para as Migrações (OIM).
A OIM recolheu dados nas estações rodoviárias mais utilizadas, entre 8 e 20 de março. Em sua maioria, os viajantes seguiram para localidades do sul do país, que já acolhem 116 mil deslocados nos últimos meses. Mas estas “províncias não têm infraestruturas suficientes e as comunidades anfitriãs não têm recursos que lhes permitam lidar com estes fluxos em massa de deslocamentos provenientes da capital”, especifica a organização.
Muitas das mais de 33 mil pessoas que fugiram da capital já estavam deslocadas internamente, inclusive várias vezes.
Situação “extremamente alarmante”
O Haiti atravessava uma profunda crise política e de segurança, e é assolado por uma violência intensa desde o início de março. Várias gangues se uniram para atacar locais estratégicos em Porto Príncipe, com o argumento de querer derrubar o primeiro-ministro Ariel Henry. Aeroporto, delegacias, prisões e outros prédios públicos foram alvo.
Contestado, o premiê não conseguiu voltar ao país depois de uma viagem ao Quênia, no início do mês. O objetivo da viagem era organizar o envio de policiais de uma missão internacional supervisionada pela ONU.
Ariel Henry concordou em renunciar em 11 de março e, desde então, ocorrem negociações para formar autoridades de transição para chefiar o país. Entretanto, os grupos armados aproveitam a instabilidade para expandir o seu domínio na capital.
“Nos últimos dias, as gangues avançaram para novas áreas da capital”, disse Ulrika Richardson, coordenadora humanitária da ONU para o país, na quinta-feira, descrevendo uma situação “extremamente alarmante”.
Henry deixa Porto Rico
O ex-primeiro-ministro Henry está na Califórnia, após deixar Porto Rico, onde havia aterrissado por não poder retornar a seu país, informaram nesta sexta-feira fontes que conhecem seu paradeiro.
“Conter a violência que assola o Haiti será uma prova de fogo para a unidade e capacidade de resistência do novo governo”, afirmou um relatório do International Crisis Group (ICG) sobre o país caribenho, na quinta-feira. “As novas autoridades devem retomar os diálogos com aliados estrangeiros para acelerar o envio” da missão internacional, de equipamento e apoio logístico para a polícia haitiana recuperar o controle do porto, aeroporto e estradas principais, relatou.
A missão da ONU, anunciada há meses, sofreu vários contratempos. À falta de financiamento somou-se o recuo dado pelo Quênia após a demissão de Henry.
O país africano garantiu, no entanto, que enviaria os prometidos 1.000 policiais ao Haiti assim que o conselho de transição fosse instalado.
Fonte: RFI