O preconceito contra pessoas gordas é conhecido como gordofobia. Ela acontece quando alguém avalia outra pessoa como inferior, problemática ou como motivo de piada pelo simples fato de ser gorda. Muita gente não vê problema em fazer comentários sobre a forma física do outro, ou “brincar” com os amigos sobre aquela gordurinha extra. Tem gente que diz que são apenas “toques de amigo”. Mas não são.
Ser gordo é uma característica normal como qualquer outra. Ela não é o oposto de ser saudável ou de ser bonito. Muita gente diz que entende isso, mas usa frases e palavras no dia a dia que são absolutamente problemáticas e refletem o preconceito enraizado que as pessoas gordas sofrem.
Algumas expressões são problemáticas e, no dia a dia, as pessoas nem notam. Aqui vão 12 frases gordofóbicas que costumam ser ouvidas por aí (e que talvez até mesmo você fale) e precisam ser cortadas do cotidiano e das redes sociais o mais rápido possível. O Hypeness te explica o porquê:
“Hoje é dia de gordice!”
O dia de comer algo bem gostoso costuma ser chamado de “dia da gordice”. Seja uma pizza, um hambúrguer ou um prato bem servido do seu restaurante favorito. Você já deve ter falado essa ou ouvido algum amigo falar. Vai comer um biscoito recheado? “Vou fazer uma gordice!”. Está com desejo de bastante carboidrato ou de uma comida feita na fritura? “Vamos comer uma coisa gorda?”. Por favor, pare agora de falar isso. Comer comidas gostosas que te fazem feliz não é fazer uma gordice, é viver. É claro que há comidas que não devemos comer sempre por questões de saúde, algo que nada tem a ver com ser ou estar gordo necessariamente. “Gordice” não existe. O que existe é prazer ao comer, desejo de experimentar uma junkie food ou fast food e por aí vai.
“Cabeça de gorda(o)”
Imagine esse diálogo: “Estou com vontade de comer um brigadeiro!”, “Ai, lá vem você e sua cabeça de gordo!”. Se você nunca fez parte de uma conversa assim, você provavelmente já ouviu alguém falar isso. Pensar em comida não significa pensar como gordo. Pessoas gordas não são seres humanos cujo cérebro foca 100% do dia em comida ou pessoas que passam o dia inteiro comendo. São pessoas comuns. É claro que parte delas enfrentam problemas de saúde, disfunções hormonais ou metabolismo lento. Mas nada disso é um “defeito” nem uma obrigatoriedade. Há pessoas gordas muito mais saudáveis do que pessoas cujo biotipo é magro.
“Você emagreceu? Tá linda!”
Essa é clássica. Você perde peso e logo vem alguém “elogiar” seu novo corpo associando o seu emagrecimento com beleza. Às vezes (muitas!), a pessoa nem faz por mal, não percebe o que falou. Mas um dos maiores problemas da gordofobia está nisso: é uma situação tão fixa no nosso inconsciente que esse tipo de frase (e opinião) sai com naturalidade.
Ser gorda não é o mesmo que ser feia e ser magra não é o mesmo que ser bonita. “Ah, mas eu acho corpos magros mais bonitos mesmo!” Você já parou para pensar o porquê disso? Será que o fato de você olhar para corpos magros e enxergar beleza neles, mas olhar para corpos gordos e enxergar neles um problema, não fala muito sobre o que a sociedade, com seus padrões de beleza em corpos sarados de academia e capas de revista com mulheres de sucesso todas magras, não nos ensinou a pensar assim?
Procure ler os comentários de fotos de famosos — e principalmente famosas — que perderam peso e não veja quantos são os textos elogiosos pelo emagrecimento. Sabe nome disso? É gordofobia.
“O rosto dela(e) é tão bonito!”
Ou, em outra versão: “ela/ele é tão bonita(o) de rosto!”. Ao falar sobre uma pessoa gorda e elogiar apenas o seu rosto significa dizer que o resto do corpo dela não é bonito. E por que não seria? Porque é gordo? Se fosse magro essa mesma pessoa seria bonita por inteiro? Há algo de errado aí — e essa certamente não é uma frase elogiosa.
“Ela (e) não é gorda (o), é gordinha (o)” (ou “é fofinho!”)
Repita para você mesmo: ser gorda ou ser gordo não é um defeito. Não há motivo para colocar a palavra GORDA no diminutivo. Muito menos criar eufemismos para se referir a alguém gordo. A pessoa gorda não é gordinha, nem fofinha, nem rechonchudinha. Ela é gorda e tudo bem.
“Ele/ela precisa cuidar da saúde.”
Vamos lá: ser gordo não significa ser uma pessoa que não cuida da saúde. Alguém gordo pode ir a academia todo dia e fazer uma alimentação equilibrada e ainda assim ter problemas para perder peso. Corpos não precisam seguir normas para serem bonitos. A beleza de um corpo está no quão saudável ele é e, sobre isso, apenas um médico pode falar. Não se engane que ao sugerir que um gordo precisa “cuidar da saúde” você está de fato preocupado com ele. O que te incomoda é a forma do corpo e é aí que mora o perigo. Ou melhor, o preconceito.
“Você não é gorda, você é linda!”
Repetindo: ser gordo não é o contrário de ser bonito. Deu pra entender? E pessoas magras também não são lindas por serem magras. Alguém que é uma pessoa gorda não deixa de ser linda por ser gorda.
“Roupa preta emagrece”
Use roupa preta porque você gosta, porque se sente bem, porque se acha lindo ou linda nela. Mas nunca use roupa preta “porque emagrece”. Primeiro porque ela não emagrece, você continua tendo exatamente o mesmo peso e as mesmas medidas com ou sem ela. A única questão é que a roupa preta interage com a luz de uma forma que visualmente parece que o corpo reduziu em medidas.
Se você é adepto dessa frase, reflita sobre ela e sobre os porquês de, enquanto sociedade, acharmos mais bonito vestir uma peça de roupa que, por uma ilusão de ótica, deixa o corpo mais magro.
“Homem gosta de ter onde apertar!”
Mulheres sem corpos magros costumam ouvir isso quando falam que não se sentem bonitas por conta de alguns quilos a mais. O comentário é, além de gordofóbico, heteronormativo e machista: mulheres não têm que ser de um jeito A ou B para agradar homens. Cada um tem que ser como quiser.
“Por que você não faz uma dieta?”
Normalmente, quando se fala em “fazer dieta”, o teor da conversa é falar sobre planejamentos alimentares que envolvem grandes restrições de calorias e sacrifícios extenuantes. A pessoa gorda não precisa fazer uma dieta para perder sua forma física. Ela, se assim entender, deve investigar com médicos se a sua saúde está, de alguma forma, prejudicada pelos hábitos alimentares que ela têm.
Se há algo de errado com suas taxas hormonais, metabólicas e sanguíneas. Para, aí sim, procurar um profissional que possa elaborar esquemas de reeducação alimentar que não sejam prejudiciais a sua saúde mental e que ajudem a colocar a saúde em dia. Mas isso não é sobre o corpo gordo. É sobre a saúde física e mental de alguém.
“Ela/ele é gorda(o), mas tem um coração bom”
Por último, mas de forma alguma menos importante, aquela que associa o corpo gordo a algo ruim. A pessoa “é gorda, MAS tem um coração bom”, o que faz dela uma pessoa “menos pior”. O fato de alguém ter um coração generoso, amável, paciente, colaborador não se opõe ao fato dela ser gorda. Ser gorda não torna alguém pior ou menos digno. Se você conhece algum casal em que uma das duas partes é gorda e a outra é magra, já deve ter visto comentários assim. “O namorado dela(e) é gordo, mas é um bom menino!” ou “Se ela está com ele(a), ele(a) deve ter um bom coração!”. Como se ser gordo fosse uma falha e todo o resto compensasse. Todas essas opções acima são ser consideradas gordofóbicas, sim.
Redação Hypeness
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